Afinal, devo ou não tomar a vacina contra o Novo Corona vírus?

Essa pergunta tem surgido frequentemente durante nossos atendimentos. Vamos tentar respondê-la.

Primeiro devemos pensar na história das vacinas e sua importância. As primeiras vacinas surgiram no século XVIII. Naquela época a Varíola era uma doença extremamente grave. A Varíola, que hoje é considerada extinta, era uma doença causada por um vírus, altamente transmissível, que não tinha tratamento específico e que causava 30% de mortalidade, além de causar feridas em todo o corpo, que lhe dava o nome popular de “bexiga” e que deixavam grande marcas nos sobreviventes… bem mais feio que o atual Covid-19…. Pois por volta de 1760 um médico chamado E. Jenner observou que trabalhadores de laticínios pegavam uma forma de varíola bovina, bem mais branda, e que esses trabalhadores não pegavam a fatídica Varíola. A partir desse achado Jenner administrou esse material em jovens saudáveis, que passaram a não contrair Varíola. Anos depois foram criadas vacinas contra Cólera e Antraz, doenças também gravíssimas, e no século XX surgiram as vacinas contra várias outras doenças, como a Poliomielite, Sarampo, Caxumba, Difteria, Rubéola etc. Essas vacinas, junto com as melhoras no saneamento são grandes responsáveis pela redução da Mortalidade Infantil, e a meu ver, as pessoas cometem um grande erro ao não vacinar suas crianças de acordo com o nosso calendário nacional de vacinação.

Mas, todas vacinas são iguais? Não, existem várias maneiras diferentes de fazer vacinas. Elas podem ser feitas a partir de micro-organismos (sejam vírus ou bactérias) vivos atenuados, ou a partir desses mesmos micro-organismos mortos (inativados), ou ainda a partir de partes desses organismos (seu DNA ou RNA) ou de substâncias (proteínas) por ele produzidas.  Independente da forma que a vacina é produzida, o objetivo é o mesmo, gerar uma resposta imune, uma proteção ao indivíduo contra aquela doença.

Todas as pessoas podem ser vacinadas? A grande maioria das pessoas podem ser vacinadas, porém aquelas que tiverem doenças que possam afetar a capacidade de reação do organismo à vacina, com aquelas pessoas com neoplasias ou doenças autoimunes não devem ser vacinadas.

E as vacinas são seguras? Não causam nenhum efeito colateral? Sim, as vacinas hoje disponíveis no mercado são extensivamente testadas e são consideradas seguras, embora todo e qualquer tratamento médico possa causar algum efeito colateral.

No momento existe uma corrida mundial pela vacina contra o Novo Corona vírus, e todas as informações da pesquisa acabam tendo grande repercussão na mídia leiga. Todas as vezes que algum efeito colateral potencialmente mais preocupante surge e a pesquisa é interrompida todos se perguntam sobre a segurança dessa vacina.

E enfim, como está o andamento das pesquisas dessa vacina? Segundo a Organização Mundial da Saúde, em agosto desse ano tínhamos 165 diferentes vacinas em pesquisa para a doença. Dessas 6 chegaram à chamada fase 3, onde são testadas em larga escala em voluntários sadios. São elas:

  1. A vacina de Oxford/Astra Zeneca, que usa um vírus geneticamente modificado, capaz de ensinar nosso organismo a se “defender”” do Corona Vírus. Essa vacina está sendo estudada no Brasil junto a Fundação Osvaldo Cruz.
  2. A vacina Sinovac (chinesa), que usa Corona vírus inativados (mortos), e que tem sido testada junto ao Instituto Butantã, de São Paulo.
  3. A vacina da Americana Moderna, que utiliza um RNA, um fragmento do código genético do Vírus para estimular a nossa defesa. Essa vacina não está sendo testada no Brasil.
  4. A vacina na Pfizer/BioNtech também utiliza a técnica do RNA e está com testes também no Brasil.
  5. A vacina da Cansino (chinesa) usa um vírus comum de gripe geneticamente modificado, e está sendo testada na Arábia Saudita.
  6. A vacina da Sinofarm, também chinesa, com vírus inativado, e que no Brasil será testada no Paraná

Como vimos, existe um enorme esforço por uma vacina, que envolve universidades tradicionais, grandes companhias farmacêuticas e diversos governos, em busca de uma solução para essa grave crise sanitária.

O trabalho nesse desenvolvimento é sério, e constantemente checado quanto a eficácia e segurança da nova vacina. Em geral esse processo levaria até 4 anos para se completar, porém espera-se uma resposta em 12 a 18 meses, um grande recorde em pesquisa médica.

E em resposta a pergunta que me tem sido feita? A decisão é individual, ninguém pode ser forçado a usar uma vacina que não queira. Eu, por ser médico e frequentemente exposto a doença pretendo tomá-la, e acredito que os benefícios dessa vacina serão bem maiores que os riscos da doença em si e de eventuais efeitos colaterais da vacina.

`       Grande abraço e até a próxima,

Dr. Daniel Lages Dias

Diretor técnico da Novacordis – CRM 70301