Remédios para Colesterol fazem mal à Saúde?

Remédios para Colesterol fazem mal à Saúde?

Nos últimos anos, os cardiologistas cada vez mais escutam esta pergunta nas consultas. Cada vez mais pacientes param de usar remédios de colesterol apesar da indicação médica, o que pode trazer consequências perigosas para saúde. Mas será que eu realmente tenho que tomar este remédio para o resto de minha vida?

Vamos tentar explicar um pouco sobre o tratamento da Hipercolesterolemia, que vem a ser como nós médicos chamamos o Colesterol alto.

O principal medicamento utilizado para baixar os níveis de Colesterol é a ESTATINA, que hoje é encontrada em várias formas (sinvastatina, atorvastatina, rosuvastatina, pitavastatina e pravastatina), inclusive em forma de genéricos ou pela farmácia popular. Isto já é um grande facilitador, uma vez que esta medicação já foi muito cara, o que dificultava o tratamento.  Não existem ainda outros medicamentos tão potentes ou seguros em reduzir os níveis de colesterol disponíveis no mercado.

Estes medicamentos foram descobertos nos anos 70, e a partir da década de 90 foram feitos vários estudos em pacientes que já tinham apresentado Infarto do Miocárdio ou que tinham risco muito elevado para apresentarem doença coronariana. Todos estes estudos mostraram importante redução do risco dos pacientes apresentarem um novo Infarto, um Acidente Vascular Cerebral (“Derrame”) ou de morrer por problema cardíaco, sem aumentar risco de desenvolver novas doenças.

A partir do inicio deste século os estudos foram estendidos, englobando pacientes que nunca tinham tido Infarto ou Derrame, mas que apresentavam alguns fatores de risco como Hipertensão Arterial, Diabetes, Tabagismo ou níveis de colesterol muito elevados. Também nesta população houve diminuição importante do risco de Infartar, de apresentar um “Derrame” ou morrer por causa cardíaca.

Estes resultados explicam o entusiasmo que os cardiologistas apresentam com estes medicamentos. O uso regular de estatinas reduz o risco de morrer por doença cardíaca e faz que mesmo pessoas que já tiveram problemas nas artérias coronárias consigam viver mais anos e com melhor qualidade de vida.

Mas, então, todo mundo tem que tomar estatina? A resposta é NÃO, COM CERTEZA NÃO! A decisão de iniciar o tratamento com estatina é baseada em uma análise que somente o médico pode fazer, e que vai levar em conta vários fatores, como idade, níveis de Colesterol, Hipertensão Arterial, Antecedentes Familiares de Infarto, Tabagismo, Diabetes, Obesidade e Sedentarismo. Um erro frequente é dar este remédio em pessoas muito jovens, sem outras doenças, apenas por conta de um colesterol um pouco acima do normal. Estes pacientes dificilmente precisarão de remédio, a menos que tenham níveis extremamente elevados de colesterol.

Nos pacientes que nunca tiveram problemas cardíacos, que fazem a chamada Prevenção Primária, sempre tentamos primeiramente dieta pobre em gorduras, perda de peso e exercícios, que podem ajudar a reduzir os níveis de colesterol ruim (LDL) e aumentar os níveis do colesterol bom (o HDL).

Já os pacientes já tiveram problemas coronarianos, que já apresentaram Infarto ou fizeram Angioplastia ou Cirurgia tem indicação de usar esta medicação de forma contínua, e certamente são os que maior beneficio terão, sem nunca esquecer a necessidade de dieta e exercícios.

Mas, e os efeitos colaterais? E meus músculos??? Vamos lá.

Em primeiro lugar, todo medicamento pode ter efeito colateral, e nenhum remédio pode ser tomado sem prescrição médica ou sem necessidade. Cabe ao médico pesar o benefício de qualquer remédio versus o risco que ele pode trazer. No caso destas estatinas, após muitos anos de uso, sabemos que são bastante seguras, e efeitos colaterais graves são extremamente raros.

O efeito colateral mais comum é dor muscular, mialgia. Ocorre em até 5% dos casos. O paciente sente dor nas pernas e braços, como se tivéssemos ficado tempos sem exercitar e tendo feito muito exercício em um só dia. Este sintoma surge após alguns dias usando o remédio, permanece enquanto o paciente está usando a estatina, e vai desaparecer após a suspensão da mesma. Não há destruição dos músculos e mesmo que o paciente apresente a dor muscular, basta suspender que tudo volta ao normal. Um efeito colateral mais grave seria a Rabdomiólise, esta sim com destruição muscular, extremamente rara, com risco de ocorrer em 1 a cada 1 milhão de pacientes medicados com estatina.

Acho que o uso por vezes exagerado destas estatinas serviu para alimentar as opiniões contrárias ao uso. Infelizmente alguns sites ou blogs trazem informações muito erradas, exageradas ou desprovidas de embasamento científico, que acabam confundindo e prejudicando as pessoas. Recomendo aos meus pacientes que caso ainda estejam em dúvida quanto ao tratamento que sempre recorram a sites ou publicações das sociedades médicas, como a Sociedade Brasileira de Cardiologia (www.cardiol.br) ou de Endocrinologia (www.endocrino.org.br), a fim de ter informações respaldadas em embasamento científico.

Em resumo, Estatinas são um importante aliado na prevenção de Infarto do Miocárdio e Derrame, mas só devem ser tomadas por indicação médica, baseada na avaliação do Risco do paciente, e como QUALQUER MEDICAÇÃO, pode ter efeitos colaterais que podem levar o seu médico a trocá-la ou suspende-la.

Um grande abraço, e até a próxima coluna,

Dr. Daniel Lages Dias

Médico Cardiologista – Diretor da Clinicordis Paulínia

Contato: paulínia@clinicordis.com