Vivemos hoje sem dúvida a mais grave crise de saúde de nosso mundo moderno. O Novo Coronavirus, surgido em Wuhan na China no final de 2019, espalhou-se por todos os paises do globo terrestre, causou milhares de mortes e paralisou inúmeros países em maior ou menor grau.
Em nosso Brasil a Pandemia começou em final de fevereiro, logo após o Carnaval. Em final de março o governo de São Paulo determinou a Quarentena, e temos nesses quatro meses acompanhado a batalha pelo controle dos novos casos e da ocupação dos leitos, além de toda a polemica envolvendo vacinas e tratamento.
Não há dúvida que trata-se de uma doença séria. Embora sua letalidade seja baixa (estima-se em 0,4% para população geral e 1,3% para idosos acima de 65 anos, segundo dados da OMS), a grande capacidade de transmissão do vírus e a possibilidade de milhares de pessoas infectarem-se ao mesmo tempo torna a chance de esgotamento de leitos real e o distanciamento social necessário.
Esses dados todos nós já sabemos, mas gostaria de aproveitar esse espaço e chamar a sua atenção para mais um problema que os médicos têm lidado nesses tempos tão difíceis: A pandemia do Coronavirus e o consequente distanciamento social fez com que praticamente todos os demais tratamentos e prevenções fossem interrompidos.
Os primeiros alertas foram percebidos pelos médicos que trabalham em prontos socorros, que perceberam uma grande diminuição na procura. Teriam as pessoas magicamente ficado mais saudáveis? Na verdade a explicação é outra… O justificável medo na procura das unidades de emergência fez com que as pessoas fiquem em casa mesmo quando surgem sintomas de doenças.
Os serviços de Hemodinâmica (Cateterismo Cardíaco) perceberam em várias partes do mundo uma diminuição nos atendimentos de urgência. Explico: um paciente que apresenta um Infarto do coração pode ser tratado por medicamentos, mas o melhor tratamento é através de um Cateterismo de urgência, que deve ser feito nas 12 primeiras horas do Infarto. Esses Cateterismos diminuíram em até 70% durante a Pandemia. Mais uma vez, as pessoas que anteriormente procuravam as emergências aos sinais de Infarto agora postergam ao máximo a ida a um pronto socorro, chegando para o atendimento quando o quadro já se agravou, ou pior, morrem em casa, sem atendimento.
Os ambulatórios e consultórios também tiveram uma grande redução nos atendimentos. Muitas unidades de saúde, públicas ou privadas, permaneceram fechadas ou com severas restrições devido a Pandemia. Hipertensos, diabéticos, portadores de inúmeras doenças crônicas interromperam o tratamento, deixaram de usar medicamentos de uso contínuo, não fizeram os exames de checagem de seus tratamentos. Pacientes portadores de Insuficiência Cardíaca muitas vezes tiveram descompensação de seus quadros e necessidade de internação porque não tiveram acesso aos seus médicos para ajustes de medicação. Como um exemplo, o serviço de Tele eletrocardiograma da UFMG, que habitualmente faz 65.000 ECG’s para várias prefeituras do país realizou no mês de março apenas 400 exames.
Saindo das doenças cardiovasculares, outro preocupante cenário é o da prevenção e diagnóstico precoce dos cânceres. E mais uma vez os dados não são nada animadores… Dados publicados na Inglaterra apontam para a possibilidade de um aumento de 20% na mortalidade por Câncer nos próximos anos. E por quê?
Estamos tendo um menor número de exames preventivos, como o Papanicolau e Mamografias da mulher, menos colonoscopias para pesquisa do câncer de cólon, menos avaliações da próstata… Inúmeros serviços públicos para o tratamento de Câncer estão com ociosidade, pois não se está fazendo diagnóstico dessa doença.
O resultado é um diagnóstico mais tardio e em forma mais avançadas da doença, com uma menor possibilidade de cura…
Mas, o que podemos fazer para mudar essa situação? Aqui deixo algumas dicas.
Em primeiro lugar, precisamos manter a regra de distanciamento, sair de casa quando necessário e com todos os cuidados recomendados. A Pandemia ainda não está controlada. Em segundo lugar, nunca interrompa o uso das medicações, a menos que um médico o peça para fazer. Terceiro, mesmo em tempos de pandemia adote hábitos saudáveis: controle sua alimentação, mantenha o peso, não abuse de álcool, pratique de algum modo atividade física, e na medida do possível reduza o estresse.
Não postergue demais as consultas que deveria fazer. As unidades de saúde tem retomado o atendimento com os cuidados necessários para reduzir a chance de contágio. Conviveremos com essas restrições causada pelo vírus por pelo menos mais seis meses, e as demais doenças não vão esperar a vacina ou uma cura para o Covid-19.
Um grande abraço, e cuide-se!
Dr. Daniel Lages Dias
Diretor Tecnico – Novacordis